A incidência de injúria miocárdica em pacientes internados em UTI com pneumonia pelo SARS-CoV2, varia de 22 a 36% baseado em marcadores de injúria miocárdica. Diversos fatores estão relacionados ao dano miocárdico na infecção pelo SARS-CoV2: hipoxemia, estímulo adrenérgico, excesso de citocinas, trombose vascular; além da descompensação da cardiopatia pré-existente. A avaliação clínica e ecocardiográfica de um grupo de 39 pacientes no período de convalescência após infecção pelo SARS-CoV2 (12 a 169 dias após o diagnóstico) mostrou uma elevada incidência da queixa de dispneia aos esforços. A piora do fôlego foi relatada em 76,9% (n=30), sendo 30,8% (n=12) descrita como dispnéia limitante (pequenos e médios esforços). No momento da avaliação, a PAS≥141mmHg ocorreu em 6 pacientes (15,4%), sendo 4 com dispneia limitante, com diferença significativa comparada ao grupo sem dispneia limitante (p=0,038). Apresentavam patologia cardiovascular prévia 5 pacientes (12,8%), sendo que 4 apresentaram-se com dispneia limitante (p=0,011).A FEVE<54% foi o achado ecocardiográfico mais frequente (n=18, 46,1%), dos quais 12(66,7%) referiram piora do fôlego, sendo 4 (33,3%) com dispneia limitante, sem diferença significativa entre os grupos. O índice de performance miocárdica (IPM) foi elevado em nossa amostra (0,72±0,14), maior nos pacientes com dispneia limitante, porém sem significância (0,77±0,11 vs 0,70±0,15, p=0,18). As médias foram significativamente menores nos pacientes com dispneia limitante quanto à velocidade e' anterior (10,5±3,6 vs 13,1±3,2, p=0,028) e ao TAPSE (22,9±4,9 vs 28,3±6,7, p=0,019), apesar de ambos ainda estarem dentro da faixa de referência normal. Selecionamos as variáveis com p<0,2 para compor um modelo de regressão logística (modelo stepwise forward) para predição de dispneia limitante a partir das variáveis clínicas e ecocardiográficas. As melhores variáveis preditoras de dispneia limitante que foram retidas no modelo de regressão logística foram o diâmetro longitudinal do ventrículo direito, velocidade s’ tricúspide, COVID-19 ambulatorial leve e patologia cardiovascular prévia. O modelo identifica corretamente 8 dos 12 pacientes com dispneia limitante (66,7%), com p=0,002. Conclusão: a dispneia limitante pós-COVID foi relacionada a disfunção do ventrículo direito, mesmo dentro da faixa de normalidade conhecida e à gravidade clínica da COVID-19, além de índice de performance miocárdica (Tei) anormal. O índice de Tei, velocidade s’ tricúspide e diâmetro longitudinal do VD podem ser parâmetros úteis para avaliação de pacientes pós-COVID.