Introdução:
Existem diferenças relatadas tanto na apresentação clínica quanto no manejo da doença arterial coronariana entre homens e mulheres, entretanto os dados na população brasileira são escassos. Esse estudo tem como objetivo descrever essas diferenças e o seu impacto no prognóstico.
Metodologia:
Pacientes em seguimento ambulatorial com antecedentes de infarto agudo do miocárdio, cirurgia de revascularização miocárdica, angioplastia coronariana ou angina estável com lesões coronarianas acima de 50% documentadas na cineangiocoronariografia foram incluídos no registro. Esses pacientes foram seguidos por 2 anos e avaliados para incidência do desfecho primário composto de morte, infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular encefálico.
Resultados:
Foram incluídos 625 pacientes, sendo a média de idade de 65 anos (DP 9,6) e 209 (33.4%) mulheres. As mulheres apresentavam uma pressão sistólica maior (134 vs 128 mmHg, p < 0.01), maior prevalência de doença renal crônica (definida como clearance de creatinina menor que 60 mL/min, 42.1% vs 31.8%, p < 0.01) e menor prevalência de disfunção ventricular (15.6% vs 31.2%, p < 0.01). Mulheres também possuíam maiores níveis de colesterol total, LDL e HDL (180 vs 156 mg/dL, 102 vs 87 mg/dL and 50 vs 42 mg/dL, respectivamente, com p < 0.01 em todas as comparações). A prescrição de inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona foi igual entre homens e mulheres, contudo mulheres apresentam uma maior prescrição de bloqueadores do receptor de angiotensina II (48.8% vs 32.2%, p < 0.01), e homens uma maior prescrição de inibidores da enzima conversora de angiotensina (53.6% vs 38.8%, p < 0.01). Não houve diferença na prescrição de anticoagulantes, antiplaquetários, estatinas ou outros hipolipemiantes, betabloqueadores ou bloqueadores de canal de cálcio. A taxa estimada do desfecho primário composto nos dois anos de seguimento foi de 4.8% (95% CI 2.8 - 6.7%). O gênero não foi um preditor de pior prognóstico na análise ajustada (HR 1.86, 95% CI 0.62 - 5.6).
Conclusão:
A despeito das mulheres apresentarem um pior controle dos fatores de risco, com níveis superiores de pressão arterial e de LDL-colesterol, o gênero não foi uma variável preditora de prognóstico no seguimento de 2 anos de pacientes com doença arterial coronariana.