Introdução: A síndrome de Takotsubo (TTS) é um diagnóstico diferencial de síndrome coronariana aguda, com fisiopatologia complexa associada ao sistema autonômico simpático. As alterações eletrocardiográficas incluem elevação do segmento ST, acentuada inversão da onda T anterior e prolongamento do intervalo QT, podendo causar arritmia ventricular, com risco de morte súbita.
Relato de caso: Mulher de 73 anos, admitida via pronto socorro por dor precordial opressiva associada a mal-estar, diaforese e palidez, após ter passado por estresse em viagem aérea com turbulências. Com antecedente de fibrilação atrial paroxística submetida a ablação prévia, hipertensão arterial, dislipidemia, síndrome dispéptica. Na avaliação inicial, foi observada PA de 156/77 mmHg, FC de 102 bpm, taquipneia, saturando 88%, com estertores crepitantes bibasais na ausculta pulmonar. O ECG mostrava supradesnivelamento de segmento ST em derivações V2 e V3 (figura 1). Submetida a cineangiocoronariografia que não evidenciou lesões coronarianas significativas, porém, com alteração de mobilidade segmentar sugestiva de Takotsubo. O ecocardiograma demonstrou FEVE de 40%, com acinesia apical, hipocinesia dos segmentos médios das paredes septal, lateral e anterior e hipercontratilidade nos segmentos basais. No ECG de controle realizado após 24 hs do evento agudo, notou-se modificação da repolarização, com inversão difusa de onda T e intervalo QT longo (QTc de 494 ms) (figura 2). Pelo diagnóstico de QT longo adquirido decorrente do TTS, foi prescrito bisoprolol 2,5 mg, além da medicação para disfunção ventricular e controle de eletrólitos, com reposição de magnésio e potássio. Persistiu com intervalo QT longo durante a internação, com alta hospitalar no 7º dia. Em seguimento ambulatorial, foi mantido medicação para ICFEr, ajustado com telmisartana 80 mg, bisoprolol 5 mg e espironolactone 25 mg. O ECG de controle após 2 meses do evento agudo apresentou normalização da repolarização ventricular e da contratilidade segmentar no ecocardiograma, com recuperação completa da função ventricular esquerda (FEVE 73%).
Conclusão: A síndrome do QT longo pode ser observada em pacientes com síndrome de Takotsubo. O diagnóstico é importante para que o manejo seja adequado, evitando possíveis complicações com implicações prognósticas.