Introdução: Com o advento da COVID-19, o mundo passou a enfrentar uma crise de saúde global desde o início de 2020, situação declarada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde. Entretanto, seu impacto vai além da própria infecção, pois as ações de contenção ao vírus estão atingindo diretamente o modo como o sistema de saúde do país atua, mudando a forma como outras doenças, já prevalentes, estão sendo conduzidas. Objetivos: Avaliar o impacto da COVID-19 e seus períodos mais incidentes sobre a realização das cirurgias do aparelho circulatório (CAC) no Brasil. Métodos: A partir do DATASUS, foram coletadas informações acerca do número de cirurgias do aparelho circulatório, de 2016 a fevereiro de 2021 e do número de internações para tratamento de COVID-19, de abril de 2020 a fevereiro de 2021. Resultados: Em 2020, houve um considerável decréscimo do número de cirurgias do aparelho circulatório em relação à média dos quatro anos anteriores, passando de 292.529 para 229.797 (reduziu 22%). O primeiro mês em que se observou essa redução foi abril, passando de 21.067, em março, para 13.790, uma redução de 35%. Isso também demonstra uma redução média de 45% em relação ao mesmo mês dos dois anos anteriores. Esse fenômeno aconteceu simultaneamente aos primeiros registros de internação por COVID-19 na base de dados, em abril de 2020. O número dessas cirurgias voltou a aumentar, atingindo 21.262 no mês de novembro, quando já havia uma redução de 41% nas internações por COVID-19 em relação a julho, o mês com mais registros até então (79.378), chegando a cair para 46.934. Após isso, o número de cirurgias voltou a diminuir, com decréscimo de 61% em relação a novembro, passando de 21.262 para 8.278 em fevereiro de 2021. Novamente, esse fenômeno ocorreu simultaneamente a um aumento das internações por COVID-19, atingindo 69.458 em fevereiro, um aumento de 47,9% em relação a novembro. Conclusões: O número de cirurgias do aparelho circulatório diminui consideravelmente nos períodos em que há um aumento de internações hospitalares por COVID-19, com redução dos leitos disponíveis nos hospitais. A queda do número dessas cirurgias durante a pandemia configura um grave problema, uma vez que a maioria delas não podem ser adiadas por muito tempo, devido ao risco de óbito e agravamento do quadro clínico, surgindo a necessidade de novas estratégias para acompanhamento dos pacientes com doenças circulatórias e manutenção da qualidade de vida desses.