Introdução: A endocardite infecciosa é reconhecida por sua alta morbimortalidade e necessidade frequente de intervenção cirúrgica para tratamento de complicações. O quadro torna-se de maior gravidade quando associado a comorbidades, como a anemia aplásica, uma doença crônica caracterizada por pancitopenia e hipocelularidade acentuada na medula óssea, com poucos relatos dessa associação na literatura. Relato de caso: Paciente masculino, 63 anos, portador de hipertensão arterial sistêmica, doença renal crônica estágio IIIB, anemia aplásica grave e história de 2 episódios de covid-19, foi admitido com queixa de febre de 39°C de início no último mês associada a fraqueza, cansaço e dispneia aos pequenos esforços. Durante investigação, identificada pancitopenia grave (hemoglobina (Hb) 6,1g/dL; leucócitos 1,77x10³/µL; bastões 16%; plaquetas 2.000/µL), proteína C reativa elevada e hemocultura positiva para Enterococcus faecalis. Iniciadas Ceftriaxona 2g 12/12h e Ampicilina 2g 6/6h endovenosas pela suspeita de endocardite bacteriana, confirmada em ecocardiograma transtorácico com presença de vegetação de 1,1cm na valva mitral, associada a refluxo importante e função ventricular preservada (Figura 1). Apesar do tratamento, evoluiu com insuficiência cardíaca descompensada refratária, sendo indicada cirurgia cardíaca após 9 dias de internação, com implante de prótese mitral biológica. Para possibilitar o procedimento cirúrgico, realizado contato com a Hematologia do hospital e programado suporte transfusional perioperatório. Iniciado tratamento com eltrombopag 48 horas antes da cirurgia para estímulo da medula óssea. Imediatamente antes da cirurgia, o valor de Hb era de 5g/dL e a contagem plaquetária de 33.000/µL. No pré, intra e pós-operatório, recebeu transfusão de 06 concentrados de hemácias, 11 unidades de plaquetaférese, além de ácido tranexâmico e crioprecipitado. Evoluiu com estabilização do sangramento pós-operatório, sem necessidade de reabordagem cirúrgica para hemostasia. Conclusão: Apesar do risco elevado de sangramento, o caso aqui relatado demonstra a possibilidade da realização de cirurgias cardíacas de urgência e emergência em pacientes com plaquetopenia grave quando há um suporte transfusional adequado.