Introdução: Sabemos muito pouco sobre receptores de transplante de coração (TC) em idade avançada e sobre o curso clínico dos receptores de TC que sobreviveram aos seus 80 anos ou mais.
Métodos: Trata-se de uma revisão retrospectiva de prontuários de TC em um hospital terciário de 01/11/1991 até 31/12/2020. Descrevemos as características clínicas dos pacientes pós TC que sobreviveram ao menos até a nona década de vida.
Resultados: De420 TC foram identificados seis pacientes (1,4%) nessa faixa etária descrita. Dois com dados incompletos. A tabela abaixo mostra as características dos pacientes.
Variáveis |
Vivos (n=4) |
Óbito (n=2) |
P |
Idade no transplante (anos) |
66,7±3,4 |
65,5±5,5 |
0,747 |
Masculino |
2 (50%) |
2 (100%) |
0,400 |
Branca |
2 (50%) |
2 (100%) |
0,400 |
Miocardiopatia isquêmica |
2 |
0 |
|
Miocardiopatia dilatada |
1 |
2 |
|
Miocardiopatia Valvar |
1 |
0 |
0,223 |
Idade no óbito ou último seguimento (anos) |
83,5±2,5 (81-86) |
82,5±1,0 (82-83) |
0,630 |
Tempo médio do TXc (sobrevida) (anos) |
16,2±5,1 (11-22) |
20,5±2,1 (19-22) |
0,343 |
|
Vivos (n=3) |
Óbito (n=1) |
P |
HAS preop (n,%) |
3 (100) |
1 (100) |
- |
DM preop (n,%) |
0 |
1 (100%) |
0,250 |
Dislipidemia preop (n,%) |
3 (100%) |
1(100%) |
- |
IRC preop |
2 (66,6%) |
0 |
0,50 |
Malignização preop |
0 |
0 |
- |
Comorbidades pós TXc |
|||
FE > 50% com 75 anos |
3 (100%) |
0 |
0,20 |
FE > 50% com 80 anos |
2 (66,6%) |
- |
- |
HAS |
3 (100%) |
1 (100%) |
- |
Dislipidemia |
3 (100%) |
1 (100%) |
- |
IRC |
3 (100%) |
- |
- |
DM |
1 (33,3%) |
1 (100%) |
0,500 |
Malignização |
1 (33,3%) |
0 |
0,750 |
Comparando os grupos não observamos diferenças significativas entre as características analisadas. Todos os pacientes apresentaram grande quantidade de comorbidades. Os TC octogenários foram realizados entre 1998 e 2010.
Discussão: Neste estudo retrospectivo descrevemos as características da saúde dos receptores de coração que ultrapassaram os seus 80 anos. O principal resultado foi que os pacientes com TC que sobrevivem além da idade supracitada é pouco frequente. As limitações desse trabalho incluem a natureza retrospectiva e o pequeno tamanho da amostra.
Conclusão: Receptores de TC podem sobreviver até os 80 anos e além, mas é raro. Aqueles que chegam a essa faixa etária carregam um grande fardo de comorbidades que requerem um tratamento cuidadoso. Estudos futuros precisarão avaliar os problemas médicos e os resultados nesta coorte única de receptores de transplantes.