Introdução: A Cardiomiopatia de Takotsubo (CMT) é uma condição caracterizada por uma disfunção segmentar transitória do ventrículo esquerdo na ausência de coronariopatia obstrutiva, desencadeada por estresse emocional ou físico, mais prevalente no sexo feminino, e cuja manifestação inicial pode simular uma Síndrome Coronariana Aguda (SCA). Pode ser classificada em duas categorias: forma típica (balonamento apical - 75-80% dos casos) e formas atípicas (basal, focal, medioventricular, biventricular, direita isolada ou global).
Relato do caso: Mulher, 33 anos, sem comorbidades, gestante de 38 semanas, admitida no hospital para indução de parto; evoluiu com distócia de progressão com necessidade de conversão para cesárea.
Em pós-operatório imediato apresentou quadro de bradicardia sinusal, com boa resposta a atropina mas com surgimento de dor torácica típica após alguns minutos; Eletrocardiograma (ECG) – Figura 1 – demonstrou baixa amplitude de complexos QRS, sem desnivelamento de ST e com inversão simétrica de onda T em V1-V3 e D1-aVL. Realizada coleta seriada de Troponina, com resultados alterados – pico de 1.193,4 pg/dL (referência < 15 pg/dL mg/dL), sendo encaminhada para laboratório de Hemodinâmica com hipótese diagnóstica de SCA.
Submetida a Cateterismo Cardíaco que excluiu coronariopatia obstrutiva. Realizado Ecocardiograma Transtorácico que demonstrou alterações de contratilidade segmentar do ventrículo esquerdo (hipocinesia em segmentos médios de paredes ínferolateral, inferior e inferosseptal), com fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 45% (Simpson), sem outras alterações.
Complementada investigação com Ressonância Magnética Cardíaca (RMC) – Figura 2 – que constatou comprometimento discreto de função sistólica de ventrículo esquerdo às custas de hipocinesia de segmentos médios, na ausência de realce tardio pelo gadolínio, achados que sugerem a hipótese de CMT na forma medioventricular.
Conclusão: Descrevemos uma forma atípica da CMT (medioventricular) em paciente jovem submetida a cesárea. Além do achado típico em RMC, a redução transitória da amplitude do QRS, como visto no ECG dessa paciente, também tem sido associada a esta condição. Embora a CMT seja mais prevalente em mulheres na pós-menopausa, casos no período periparto são descritos na literatura. Níveis elevados de catecolaminas podem desencadear a síndrome e por isso substâncias adrenérgicas ou anticolinérgicas (como atropina) devem ser utilizadas com cautela durante o perioperatório.