Introdução
A perfuração coronária durante intervenções cardíacas percutâneas (ICP) é uma complicação rara, mas potencialmente fatal. É mais frequente em ICP de enxertos de safena, e associada a um alto risco de oclusão e instabilidade hemodinâmica. Relatamos um caso de perfuração crônica de enxerto de safena.
Relato do caso
Homem de 69 anos com hipertensão, dislipidemia e doença arterial coronariana procurou o pronto-socorro de nossa instituição por quadro de angina crônica e ligeira limitação às atividades ordinárias (Angina CCS II).
Submetido a cirurgia de revascularização coronariana há 20 anos, e intervenção coronária percutânea (ICP) da artéria circunflexa com um stent convencional em 2005. Posteriormente foi submetido novamente à angioplastia, e realizado implante de stent convencional do enxerto de safena para artéria marginal em 2015.
O eletrocardiograma inicial não mostrou sinais de isquemia aguda e os biomarcadores cardíacos foram negativos para infarto.
A cineangiocoronografia realizada por via femoral direita demonstrou: artéria coronária direita não dominante sem lesões obstrutivas; oclusão total da artéria descendente anterior (ADA) esquerda com enxerto da artéria mamária interna para ADA pérvio; stents pérvios na artéria circunflexa e oclusão total do primeiro ramo marginal em seu leito nativo, com enxerto de veia safena para artéria marginal pérvio.
Após a primeira injeção no enxerto de safena para a artéria marginal, foi observada retenção de contraste no segmento médio da artéria (figura 1.B). As imagens foram comparadas com a angiografia realizado há 5 anos e notado o mesmo padrão (figura 1.A), sugerindo, portanto, uma perfuração crônica de Ellis I do SVG.
No dia seguinte, o paciente foi submetido à ressonância magnética cardiovascular (RMC) que não mostrou derrame pericárdico.
Tomografia de coronárias também foi realizada durante a internação, demonstrando sinais de perfuração contida no enxerto safena para artéria marginal (figura 1.C).
Posteriormente, o paciente recebeu alta para acompanhamento ambulatorial, com melhora dos sintomas após otimização do tratamento clínico.
Conclusão
A ICP de enxertos venosos tem alto risco de complicações, tanto durante o procedimento (como no-reflow, infarto após ICP), quanto após (como reestenose).
Do nosso conhecimento, esse é o primeiro caso relatado de uma perfuração crônica de enxerto de safena no qual a perfuração foi auto-contida, possivelmente por aderências pericárdicas.