Introdução: Com o advento da intervenção coronariana percutânea (ICP), houve redução progressiva da necessidade de cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) após infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST). Objetivo: Analisar a incidência e as complicações da CRM em pacientes com IAMCSST tratados em uma rede municipal baseada na estratégia fármaco-invasiva (EFI). Métodos: No período de março 2010 a setembro 2020, foram analisados 2.710 pacientes consecutivos com IAMCSST, submetidos à fibrinólise (97% com tenecteplase) em hospitais secundários e transferidos sistematicamente ao centro terciário para realização de cateterismo cardíaco e ICP se necessária. Variáveis categóricas foram comparadas pelo teste qui-quadrado e as numéricas pelo teste de Mann-Whitney. Resultados: Dos 2.710 pacientes, 91 (3,3%) foram submetidos à cirurgia cardíaca após IAMCSST, com um tempo mediano de 21,7 dias (intervalo interquartil 11-33 dias) pós-IAM. O grupo submetido à CRM apresentou idade mais avançada em relação aos demais (61 x 58 anos; p=0,015), mas não houve diferença entre os grupos em relação a gênero, presença de diabetes mellitus, tempo dor-agulha, fração de ejeção e valores medianos de troponina. As taxas de complicações mais frequentes no pós-operatório foram: lesão renal aguda, definida por aumento de creatinina superior a 0,3 mg/dL (27,5%), queda de hemoglobina maior que 5 pontos (15,4%), fibrilação atrial “nova” (8,8%), IAM tipo 5 (5,5%), mediastinite (3,3%) e AVC isquêmico (2,2%). Não houve diferença na mortalidade hospitalar entre os grupos CRM e não-CRM (6,6% x 6,0%, respectivamente; p=0,65). Conclusão: Em pacientes com IAMCSST atendidos em uma rede pública municipal estruturada pela estratégia fármaco-invasiva, a CRM foi utilizada com pouca frequência, “fora da fase aguda do IAM” e com baixos índices de complicações.