Introdução: O choque cardiogênico é definido como um estado de má perfusão tecidual, no qual o coração não consegue fornecer sangue adequadamente ao organismo, o que acarreta um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio, produzindo hipóxia celular e tecidual. Relato do caso: Paciente feminina, 70 anos. Chega à emergência com queixa de “resfriado”. Relata quadro gripal com coriza, tosse, anosmia e ageusia há 7 dias. É hipertensa há 3 anos e tabagista. Medicamentos em uso contínuo: Maleato de Enalapril 10 mg, 2 vezes ao dia e inalação com Brometo de Ipratrópio quando necessário. Ao exame físico: ACV: RCR, 2T, BNF sem sopros, PA: 115x70mmHg, FC: 115bpm, FR: 28irpm, SatO2: 96%,Temperatura: 38 ºC. Murmúrios reduzidos em bases, com discretos sibilos bilateralmente. Abdome atípico. Ausência de edema em membros inferiores. Aos exames solicitados na admissão: Tomografia computadorizada (TC) de tórax apresentando 50% de infiltrado em vidro fosco e presença de estrias fibroelásticas. Eletrocardiograma com taquicardia sinusal. Laboratoriais: Troponina T: 8 (VR: <0.05), D-dímero: 1100 (VR: <500) e RT-PCR positivo para COVID-19. A conduta inicial foi orientar internação e realização das medidas de suporte, além de antibioticoterapia com Azitromicina e Ceftriaxona. Evolução: Dois dias após a conduta inicial, a paciente permaneceu com febre, apresentando piora da dispneia e diarreia com dor abdominal. PA: 75x45mmHg (apesar de prova volêmica), FC: 140bpm e SatO2: 88% em ar ambiente. Foi encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva. Conduta: Realizada troca de antibiótico para Meropenem e Metronidazol, iniciado Dexametasona e Noradrenalina. TC de abdome que evidenciou ileocolite; TC de tórax apresentando 75% de infiltrado em vidro fosco e Ecocardiograma transtorácico com fração de ejeção (FEVE) de 30%, hipocinesia difusa, disfunção diastólica e derrame pericárdico leve (posterior); Cateterismo cardíaco normal. Foram realizados exames laboratoriais: 22000/mm3 leucócitos, 3.1% de linfócitos, PCR: 33mg/dl e LDH: 552U/L (VR: <225). Após conduta, a paciente foi diagnosticada com choque cardiogênico secundário à miocardite por infecção por SARS-COV 2. Tratamento: IOT, Dobutamina 10 mcg/kg/min e realizado implante de balão intra-aórtico. Conclusões: São raros os relatos na clínica e na literatura da COVID-19 causar como complicação um choque cardiogênico com FEVE reduzida secundário à miocardite. O tratamento com Dobutamina e implante de balão intra-aórtico foi responsável por reverter o quadro clínico da paciente em 10 dias, com posterior alta.