Introdução: As próteses biológicas tem durabilidade limitada e baixo desempenho em longo prazo, especialmente em pacientes com doença cardíaca reumática (DCR) que costumam ser submetidos a várias cirurgias cardíacas. Os procedimentos minimamente invasivos como o implante transcateter "valve in valve" (ViV) podem oferecer uma alternativa atraente. O objetivo deste estudo foi avaliar as características basais e os desfechos clínicos em pacientes reumáticos e não reumáticos submetidos a procedimentos de ViV para disfunção de bioprotese valvar. Métodos: Estudo prospectivo unicêntrico, incluindo pacientes submetidos a implante transcateter ViV em posição aórtica, mitral e tricúspide, de maio de 2015 a setembro de 2020. Resultados: Entre 106 pacientes incluídos, 69 tinham etiologia reumática e 37 eram não reumáticos. Os pacientes reumáticos tiveram uma maior incidência de mulheres (73,9% vs 43,2%, respectivamente; p = 0,004), fibrilação atrial (82,6% vs 45,9%, respectivamente; p < 0,001) e 2 ou mais cirurgias anteriores (68,1% versus 32,4 %, respectivamente; p = 0,001). Embora o sucesso do dispositivo tenha sido semelhante entre os grupos (75,4% versus 89,2% em reumáticos versus não reumáticos, respectivamente; p = 0,148), houve uma tendência para maiores taxas de mortalidade em 30 dias em pacientes reumáticos (21,7% vs 5,4%, respectivamente; p = 0,057). Mesmo assim, em um seguimento médio de 20,7 [5,1 - 30,4] meses, a mortalidade cumulativa foi semelhante entre os dois grupos (p = 0,779). Figura 1. Conclusão: O implante do transcateter ViV é uma alternativa aceitável no tratamento de pacientes com DCR e disfunção importante de bioprótese. Apesar das taxas de sucesso do dispositivo semelhantes, os pacientes reumáticos apresentam taxas de mortalidade mais elevadas em 30 dias, com bons resultados clínicos em médio prazo. Estudos futuros com maior número de pacientes e acompanhamento ainda são necessários para melhor definir o papel dos procedimentos transcateter na população com cardiopatia reumática.