Introdução: As afecções neoplásicas do sistema cardiovascular são raras, com sintomatologia, na maioria das vezes, inespecífica. Mais de 75% dos tumores cardíacos são benignos, e, dentre os 25% malignos, 75% são sarcomas, que têm caráter agressivo, com potencial de disseminação e invasão local, assim como alta taxa de recorrência.
História do paciente: O presente artigo relata o caso de um homem, 44 anos, que apresentou quadro de tosse noturna e palpitações, evoluindo para ortopneia e dispneia em repouso. Foi admitido no serviço de atenção médica onde foi submetido a radiografia de tórax e eletrocardiograma, no qual evidenciou flutter atrial 2:1. Na hipótese de taquicardiomiopatia, foi iniciado tratamento medicamentoso com antiarrítmico e betabloqueador, mas não houve sucesso terapêutico. Depois, realizou-se ecocardiograma transesofágico para considerar a possibilidade de cardioversão elétrica, em que demonstrou massa atrial de ecotextura heterogênea, limites lobulados e pedículo situado no septo interatrial, com medidas de 7,7 x 1,5 cm em seus maiores diâmetros. Além disso, mostrou ampla movimentação, invadindo a cavidade ventricular e o apêndice atrial esquerdos, e impedimento de fluxo da valva mitral, o que sugere mixoma atrial. Foi, então, submetido a exérese de tumor, porém, em razão de dificuldades técnicas, persistiu, possivelmente, resíduo tumoral in loco. No pós-operatório, paciente apresentou ritmo juncional bradicárdico e episódios de fibrilação atrial, foi, então, implantado um marca-passo definitivo no pós-operatório. O histopatológico da peça cirúrgica foi compatível com sarcoma intimal, o que evidencia camada de fibrina sobrejacente e zonas hipercelulares com necrose tumoral focal. No estadiamento, as tomografias de crânio e tórax sugeriram implantes tumorais secundários. Paciente efetua seguimento em centro oncológico com proposta de realizar quimioterapia paliativa.
Conclusão: Sarcomas cardíacos representam um verdadeiro desafio não só no diagnóstico precoce, mas também a nível da terapêutica a ser instituída. Evidencia-se, nesses casos, a relevância da suspeita clínica precoce devido ao alto potencial de disseminação e de complicações associadas. O ecocardiograma transtorácico ou esofágico é essencial para se obter a visualização de tumores cardíacos e seu comportamento intracardíaco.Além disso, a determinação do tipo histológico do tumor por meio da biópsia é de extrema relevância para direcionar o tratamento. O diagnóstico tardio implica em altas taxas de morbidade e mortalidade.