Introdução:A insuficiência mitral (IM) acomete cerca de 1,7% da população e traz repercussões ao paciente. Essa valvopatia pode ocultar insuficiência de ventrículo esquerdo, em que a ejeção permanece normal por longos períodos, mascarando a gravidade da disfunção contrátil, só sendo possível a identificação da disfunção por meio da realização de um ecocardiograma transesofágico intraoperatório (ETE), o que não é rotina em muitos serviços que realizam cirurgias cardíacas. Objetivo: Relatar um caso de disfunção de ventrículo esquerdo mascarada por IM identificada com uso de ETE na saída de circulação extracorpórea (CEC), após cirurgia de troca valvar mitral.Relato de Caso: Paciente masculino (67 anos), dispneia há 5 dias aos mínimos esforços (NYHA III), ortopneia e oligúria. Admitido na unidade de terapia intensiva (UTI) com diagnóstico de insuficiência mitral aguda (rutura de cordoalha de folheto posterior) e hipertensão pulmonar. Apresentava ainda comunicação interatrial, insuficiência tricúspide com ventrículo direito dilatado. Realizou, no mesmo dia, após compensação, cirurgia de implante de bioprótese mitral, plastia da valva tricúspide (plastia a De Vega) e atrioseptorrafia com tempo de CEC: 90min/pinça: 64min. Após indução anestésica, foi passada sonda de ETE, utilizado como monitor intraoperatório. O exame inicial demonstrou sobrecarga de volume do Ventrículo Direito, levando à suspeita de disfunção, o que poderia dificultar a saída de CEC. Porém, na saída de CEC, o ETE revelou insuficiência de ventrículo esquerdo, a qual era mascarada pela IM que normalizava a fração de ejeção antes da cirurgia, norteando a indicação de uso de inotrópico em altas doses e balão intra-aórtico (BIA). Assim, foram empregadas dobutamina em dose máxima e noradrenalina em doses suficientes para manter pressão de perfusão coronariana adequada. Com necessidade de doses crescentes de noradrenalina, foi indicado precocemente o BIA pelo choque cardiogênico, visando a estabilidade hemodinâmica. A partir daí iniciou-se o desmame das drogas vasoativas e do BIA. Em 16 dias o paciente recebeu alta da UTI e após mais 15 dias, alta hospitalar em bom estado geral, hemodinamicamente estável e sem queixas. Conclusão: O ETE durante a cirurgia e não apenas na saída de CEC é ferramenta fundamental para o diagnóstico precoce da disfunção do ventrículo esquerdoapós o implante da prótese mitral e planejamento de possíveis outras dificuldades, possibilitando a instalação imediata do suporte circulatório adequado, o que no caso apresentado garantiu um bom desfecho ao paciente.